Tecnologias de drones é o tema de abertura do Fórum LogTechs 2022

Profissionais das áreas de desenvolvimento e comercialização de drones mostram que estamos diante de uma tendência natural. Modal já é usado para entregas delivery e transforma experiência de compra no Brasil

Texto: Paula Bonini

Após um dia de trabalho, ao chegar em casa cansado e com fome,você pede um delivery via app ou site. Imaginou a cena? Agora, imagine você recebendo o pedido dentro de 5 minutos. Nada mal, não é mesmo? Melhor ainda é saber que essa cena já é realidade em determinados locais do país graças ao uso de drones pelo iFood, foodtech líder da América Latina. É isso mesmo, os equipamentos vêm sendo usados para entregas de refeições e produtos em algumas regiões e, com isso, transformando a experiência de compra.

O uso de drones na logística é uma novidade rodeada de avanços e perspectivas otimistas. Não à toa, o assunto foi tema do painel de abertura do Fórum LogTechs 2022, primeiro evento dedicado às Startups de Logística do Brasil. O moderador Emerson Granemann, CEO do MundoGEO, bateu um papo com um representante das empresas AL Drones, Ifood e SpeedBird Aéreo.

O Ifood é a primeira empresa autorizada a utilizar drones em delivery de refeições e produtos no Brasil, tendo recebido a certificação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no início do ano. O Head de Logística, Fernando Martins, contou que a empresa testa diferentes modais de entrega para aumentar a eficiência. “Quando vimos o potencial dos drones, buscamos parceiros e o implementamos com segurança e seguindo as exigências dos órgãos reguladores. Foi uma longa jornada para chegar à certificação”, garantiu.

Durante o evento, foram debatidas as vantagens trazidas por esse modal de entrega, que são inúmeras e já podem ser vistas na prática. “Em Aracaju, onde já chegamos com os drones, uma entrega que via terrestre demorava entre 35 e 50 minutos, dependendo do trânsito, é feita em 5 minutos, via aérea, com o uso de drone. A comida chega na temperatura ideal e o cliente não fica esperando”, comemorou Martins, acrescentando que os drones possibilitam ainda uma operação mais sustentável com menos emissão de gases na atmosfera.

Além disso, a tecnologia proporciona maior transparência no processo do pedido com o cliente tendo acesso ao trajeto pelo mapa. “O modal oferece ainda um leque maior de ofertas aos clientes. Estabelecimentos que não faziam entregas, passam a fazê-las”, pontuou.

E não para por aí. Os entregadores são beneficiados com mais serviço e menos risco de acidentes. Ficou claro o quanto eles são fundamentais na operação e não serão substituídos pela tecnologia. “De forma alguma, os entregadores serão substituídos. Eles são parte essencial inclusive da nossa operação, inclusive com os drones, fazendo uma etapa do pedido. É importante explicar que o drone não sai do restaurante e chega no destino final com a entrega. Ele precisa decolar e pousar em áreas de segurança. Ao pousar, terá um entregador esperando para, então, levar a entrega”, esclareceu Martins.

O delivery por drones é um modal complementar na operação do Ifood, que conta com entregas via moto, moto elétrica, bicicleta, bicicleta elétrica e patinete. “O drone vem para somar. Temos mais de 60 milhões de pedidos mensais no Brasil e para garantir eficiência na entrega e que as pontas da cadeia sejam beneficiadas, precisamos entender qual o modal certo, para o pedido certo e o raio certo. “É uma combinação de fatores que faz com que a gente defina a combinação de modal, usando algoritmos e Inteligência Artificial”, revelou o head de logística.

Os drones utilizados pelo Ifood são desenvolvidos pela empresa SpeedBird Aéreo. “Além do desenvolvimento do software especial, pensamos nas operações e colocamos em prática toda uma infraestrutura de telecomunicação, sistemas e aeronaves para serem utilizadas pelas empresas que visam complementar seus modais e diminuir o tempo de entrega, assim como tem feito o Ifood”, comentou Samuel Salomão, CEO da SpeedBird.

Para ele, a sociedade precisa começar a olhar para a tecnologia de drones como algo que vai trazer benefícios e facilitar a vida das pessoas. “Vim para Israel, o berço da criação de drones, buscar tecnologias e conhecimento, pois queremos fazer o escalonamento de drones com total segurança”, observou Salomão, que participou do Fórum LogTechs diretamente de Israel.

O objetivo dos drones é transportar de maneira mais eficiente e rápida uma quantidade maior de carga. Para tanto, diversos estudos estão sendo realizados para que os drones possam transportar mais peso. “Já estamos pensando em como fazer”, adiantou o CEO.

Hoje, de acordo com Salomão, existem produtos de mercado, por exemplo, que têm um valor agregado interessante, mas são pesados. “Temos a necessidade de realizar transportes intermunicipais. Esse transporte rápido feito pelos drones é crucial, principalmente, em situações críticas. Temos um leque grande de possibilidades. Buscamos entender as dores da logística brasileira e como o drone pode ajudar a empresa. ”, destacou.

Como se vê, muitas novidades ainda estão por vir e engana-se quem pensa que elas chegarão em um futuro distante. Andre Arruda, CEO AL Drones, empresa que trabalha na engenharia dos drones e certifica essas aeronaves, apontou que estamos diante de uma tendência natural. “A operação vai se disseminar em diferentes contextos, como aconteceu lá atrás com a aviação. Haverá um acréscimo contínuo dos componentes embarcados para que sejam certificáveis. A tecnologia embarcada será cada vez mais robusta para operar com taxas menores de falhas e novos requisitos surgirão para permitir voos cruzando uma cidade, em cima de pessoas”, falou Arruda.

Como se vê, muitas novidades ainda estão por vir e engana-se quem pensa que elas chegarão em um futuro distante. Andre Arruda, CEO AL Drones, empresa que trabalha na engenharia dos drones e certifica essas aeronaves, apontou que estamos diante de uma tendência natural. “A operação vai se disseminar em diferentes contextos, como aconteceu lá atrás com a aviação. Haverá um acréscimo contínuo dos componentes embarcados para que sejam certificáveis. A tecnologia embarcada será cada vez mais robusta para operar com taxas menores de falhas e novos requisitos surgirão para permitir voos cruzando uma cidade, em cima de pessoas”, falou Arruda.

Segurança no espaço aéreo e solo são exigências para certificação

Especificamente sobre o drone delivery, ele comentou que trata-se de um voo duplamente desafiador: fora do alcance visual do piloto e em ambiente urbano. Por isso, é uma operação complexa do ponto de vista da certificação. “É preciso oferecer segurança no espaço aéreo e no solo com as pessoas do ecossistema urbano”, explicou o CEO da AL Drones.

A caminhada em busca da certificação pode ser separada em 4 etapas dentro da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), segundo Arruda. “A primeira é a apresentação de um plano de trabalho com a proposta da aeronave, a segunda é o momento de estabelecer cada requisito que o drone tem que cumprir, a terceira é o forte trabalho de engenharia para desenvolver o relatório de certificação, que demonstra a segurança, as análises de falha, etc. Por fim, a quarta etapa é a de ensaios em conjunto”, enumerou.

Essas fases permitem mostrar a segurança da operação. Para tanto, todo o know hall e as boas práticas da aviação são trazidas à tona e contribuem para que essa tecnologia voe com segurança. “Hoje, a operação com drones acontece em áreas urbanas em rotas pré definidas, com distância de pessoas. Haverá aumentos gradativos, faseados em etapas”, disse durante sua participação no Fórum LogTechs.

Além da certificação da ANAC, que analisa o cumprimento de padrões operacionais, há requisitos exigidos pelo DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). É o DECEA que organiza o controle do espaço aéreo brasileiro, viabilizando os voos e a ordenação dos fluxos de tráfego aéreo, inclusive de aeronaves não tripuladas.

O Brasil tem se destacado como referência em operações com drones com um sistema totalmente operacional. A excelência demonstrada e os esforços contínuos levantam previsões bastante positivas no que diz respeito ao uso da tecnologia.

Há apostas de que em um futuro próximo, além das entregas delivery em 5 minutos se transformarem em realidade para a maioria das pessoas, o céu estará tomado pelos drones, que vão mudar não só a experiência de compra, mas a forma de fazer logística no Brasil.

“Uma entrega que via terrestre demorava entre 35 e 50 minutos, dependendo do trânsito, é feita em 5 minutos, via aérea, com o uso de drone”. - Fernando Martins (iFood)

“A sociedade precisa começar a olhar para a tecnologia de drones como algo que vai trazer benefícios e facilitar a vida das pessoas”. - Samuel Salomão (SpeedBird)

“É preciso oferecer segurança no espaço aéreo e no solo com as pessoas do ecossistema urbano. Os drones vão se disseminar em diferentes contextos, como aconteceu lá atrás com a aviação”. - André Arruda (AL Drones)